1 E 2 Geração

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ex-paquitas que viraram atrizes relembram o passado com Xuxa e falam de preconceito

RIO - Letícia Spiller, Juliana Baroni e Bárbara Borges esticam os braços e juntam as pontas dos dedos para comparar a cor das unhas: todas usam esmalte vermelho. Encontro para botar em dia o papo mulherzinha? Não. A coincidência serve apenas para mostrar que os tempos são outros. Reunidas pelo GLOBO para uma conversa sobre o começo em comum na TV, como paquitas - função que já foi o sonho de milhares de meninas de diferentes gerações e serviu para revelar pelo menos meia dúzia de atrizes de sucesso -, elas confessaram que não tinham muita liberdade quando eram assistentes dos programas da Xuxa, nem mesmo para ir à manicure. Hoje, as três estão no ar em novelas e não renegam o passado.

A gente só podia usar esmalte clarinho - recorda Letícia, a Maria Eva de "Duas caras", primeira a deslanchar e ganhar reconhecimento como atriz. - O teatro já era minha paixão. Mas, aos 15, estava com gás e queria emprego. Se não tivesse sido paquita, teria trabalhado em loja - diz a atriz, 34 anos, que inventava crise de bronquite para se ausentar dos shows da apresentadora e participar de peças amadoras.
Letícia estourou como a manicure Babalu, de "Quatro por quatro" (1994), e fez parte do exército platinado de Xuxa dos 15 aos 18 anos. Era a Pituxa Pastel (ganhou o apelido da apresentadora por ser avoada). A atriz não se arrepende desse começo, mas, assim como as outras louras, admite que penou para se livrar do estigma de ex-paquita.

Nunca tive vergonha, mas sofri preconceito. Tudo o que era escrito a meu respeito no início trazia a palavra paquita - conta Letícia, que já acreditava exercer sua porção atriz nos palcos de Xuxa. - Lá você tinha que vestir um personagem e ficar com o sorriso estampado no rosto - explica a atriz, que agora fará uma dançarina francesa no filme "O inventor de sonhos", sobre os 200 anos da chegada da família real ao Brasil.

Estrela da Record, Bianca Rinaldi, a heroína Maria de "Caminhos do coração" - ela viverá a personagem e sua irmã gêmea na segunda fase da novela, que estréia dia 2 de junho - , ainda se incomoda ao ser apontada como ex-paquita (a loura era a Xiquita Bibi no infantil).

- Não é que eu não goste de falar disso. Mas minha vida andou, não parei ali. Tenho orgulho do que fiz, só não me vejo como ex-paquita. Sou atriz - enfatiza Bianca, de 33 anos.

Ela acha que sua carreira mudou de estágio depois do remake "A escrava Isaura", de 2004.


- Precisei provar para mim mesma que era capaz. Tem gente que fala de paquita de forma pejorativa, pensa que era só ficar atrás da Xuxa agitando o pompom - lamenta Bianca.

Todas são unânimes: a função das meninas-soldadinhos não era só fazer pose. Além das gravações no Brasil e em países como Argentina, onde Xuxa era ídolo, o exército de louras de franja (quase todas oxigenadas) acompanhava a apresentadora nos shows ao vivo e cuidava da carreira solo do grupo. Isso mesmo: as paquitas também se apresentavam como cantoras e gravavam discos (o primeiro, de 1989, vendeu inacreditáveis 800 mil cópias).

- Gravamos o disco seis meses depois que entrei. Acharam que eu cantava bem e eu fiz a voz principal - lembra Letícia. - Hoje, só canto com os amigos. Já participei de um show do Toni Platão - informa.

Bárbara Borges também já soltou a voz e diz que sua "noção de palco" começou no "Planeta Xuxa".

- Tínhamos que estar com os sentidos aguçados. Nas gravações, ficávamos ligadas no palco, nas crianças e na Xuxa - lista Bárbara, de 29 anos, que, ao contrário das outras atrizes, não participou dos filmes da apresentadora.

A estréia de Bárbara no cinema (ela vai rodar agora o filme "Casamento brasileiro") foi no longa "Vingança", ainda inédito. Colega de Letícia na novela das 21h, na qual vive Clarissa, ela levou a própria câmera digital para registrar o encontro com as amigas Spiller e Baroni.

- Era superfã das duas. Comecei no dia em que elas se despediram. Chorava copiosamente e lembro que a única coisa que falei para a Xuxa é que queria ser atriz - diz Bárbara, que teve seu primeiro papel na novela "Porto dos milagres", de 2001.

Ela foi a primeira a deixar o seu grupo formado em 1995. Foi contemporânea de Graziella Schmitt, que já atuou no seriado "Sandy & Junior" e "Malhação" e estará na próxima trama das 21h da Globo, "A favorita": será amante de Murilo Benício. A geração de Bárbara e Graziella teve o sucesso de Letícia como estímulo.

- Letícia foi referência. Saí depois de quatro anos para estudar teatro, porque era muito crua como atriz - reconhece Bárbara.

No ar como a mocinha Sofia da novela "Dance, dance, dance", da Band, Juliana Baroni quer atuar com Letícia no teatro: elas estão procurando um texto para montar. A atriz é exemplo do quanto o posto de assistente do programa infantil já foi desejado. Ela venceu o concurso "paquita paulista" e deixou a família em Limeira, interior de São Paulo, para integrar o "Xou da Xuxa" com apenas 11 anos.

- Juju morou na minha casa nesta época e viramos irmãs. Ficávamos no mesmo quarto nas viagens. Mas ela emagreceu muito e a Marlene (Mattos, diretora) pegava no pé. Já eu tinha engordado e não podia exagerar. Pedia comida no quarto e dizia que era para a Ju - diz Letícia, que entrega outras escapadelas da época. - Teoricamente não podia, mas eu e a Bianca namoramos os paquitos - confessa, aos risos.

Comparada a Scarlett Johansson por Miguel Falabella (que a dirigiu no filme "Polaróides urbanas"), Juliana diz que foi Letícia quem a ajudou na preparação do teste para "Cara e coroa", de 1995, sua estréia em novelas. Foi na trama que ela conheceu Falabella - o ator e diretor já confessou que torceu o nariz para a menina na época só por ela ter sido paquita.

- "Cara e coroa" substituiu "Quatro por quatro" no horário das 19h. Lembro da expectativa para ver se a próxima paquita iria emplacar - assume Juliana, que atendia pelo apelido de Catuxa Jujuba no "Xou".

Apesar de todas terem começado a trabalhar ainda muito novas, sob as rígidas regras impostas pela diretora Marlene Mattos, nenhuma das atrizes admite que sacrificou parte da juventude. Pelo contrário: elas acreditam que o estilo linha-dura era necessário para impor disciplina, palavra que consta no vocabulário de toda ex-paquita.

Parte da penúltima geração de paquitas (o grupo foi extinto em 2002), Monique Alfradique, a Fernanda de "Beleza pura", garante que teve uma "adolescência maravilhosa". Ela foi paquita dos 12 aos 16 anos. Em sua terceira novela, a loura é a mais bem-sucedida do seu grupo, que revelou ainda Lana Rodes, no ar como Esmeralda em "Caminhos do coração".

- A trajetória como paquita me ajudou. Fazíamos curso de teatro, interpretação para cinema com Tizuka Yamasaki, aula de dança com Carlinhos de Jesus. Aprendi muito ali - afirma Monique, 21 anos, ciente de que enfrentaria preconceitos mesmo se não tivesse sido paquita. - Sou lourinha de olhinho claro. Precisei ir além desse padrão de beleza para mostrar talento.


Fonte:oglobo.globo

Nenhum comentário: